JEREMIAS - TESTEMUNHO

Preciso dar meu testemunho sobre um momento muito comovente. Sei que nesses momentos delicados da vida ficamos frágeis, bobos, moles e coisas do tipo. Já passei por isso com filhos, esposas, mãe e sei muito bem como é. Mas a cena que eu vi me deixou muito emocionado e me fez pensar em muitas coisas legais. Mais uma liçãozinha dentre dezenas que eu tenho aprendido nesse MBA de vida.

O Jeremias é um senhor de 81 anos. Um senhor de 81 anos porém sacudido. Negro. Risonho ao extremo, sempre está sorrindo. Ele está trabalhando na mesma farmácia que o meu pai há mais de 60 anos. Os dois formavam "a dupla". Imaginem o "colega de trabalho" de 37 anos. Passar 10/12 horas ao lado do cara. Certamente essa proximidade transforma-se numa puta amizade. A alegria desse senhor ao ser reconhecido já foi emocionante.. Ele gesticulava ao falar com o Takeo. Foi a primeira vez, nesses dias, que vi meu pai "dialogar". Como disse várias vezes o Jeremias: Uma benção.

Quando saímos da UTI, para minha mãe entrar, o Jeremias foi falar com a Ale. Ele foi contar, com uma alegria contagiante, sobre como o meu pai o havia reconhecido. A alegria foi aumentando, aumentando e materializou-se em lágrimas. Ele estava rindo, falando e chorando. O rosto negro encharcado de lágrimas ao ponto de gotejar na camisa. A Ale se emocionou. Eu me emocionei.

A Ale me deu carona até em casa. Viemos falando sobre esse episódio. Lindo. Fichas foram caindo. Que bom que meu pai seja tão querido. Que bom meu pai ter um amigo como o Jeremias. Um amigo, despretensioso. Eles não são grandes empresários. Nenhum dos dois possue formação. Nenhum dos dois tem posses. Mas eles tem algo que muitos de nós não temos. Um amigo capaz de chorar de alegria pelo simples fato de ser reconhecido pelo "amigo do trabalho".